Saudades
do Umbigo
Durante toda minha meninisse, sentia
vergonha de ser caipira. Era como eu me via, me considerava menor por morar em
um bairro da zona rural de Piranguçu. Maldito complexo de inferioridade, sem
raiz, mas que me tornava infeliz.
Quando subia o morro do colégio com
meus pais em nossa velha bagageira, era como se eu estivesse nu. Por que? Já que
Piranguçu era, como até hoje é, pior que qualquer roça. No entanto, era um
bálsamo, passar despercebidamente pela Rua dos Velhacos, cujo nome já infere a
necessidade de transitar sem alarde. Meus pais são pessoas honestíssimas, mas notava
também nos olhos dele que não sentia nenhuma vontade de assuntar sobre o resto
da cidade. Para mamãe isso era indiferente. Crio que se pudesse pousaria direto
na igreja, de preferência na palma da Mao de Deus.
Na escola tive a maldita sina, dos
seis aos dezessete, me apaixonar sempre pela “estrelinha” da escola, que como já
se sabe por força dos seriados, preferia um cara mais velho, de preferência brigão
e que já soubesse até fumar. Eu com meus sentimentos puros e ingênuos ficava só
babando. Como eu sofria com as decepções amorosas. Sofria calado.
O pior é que achava que as garotas não
gostavam de mim devido ao fato de eu morar no bairro dos Melos. Mais berrante ainda é que, quase como quem
vende a alma ao cão, já tive desejo de morar no centro de Piranguçu. Credo em
cruz. Nem morto. Aliás, só depois de morto.
Isso se não criarmos um campo santo cá
nas terras de baixo, no garboso bairro dos Melos e resgatar os restos mortais
dos vitoriosos que se imortalizaram em nós: nossos antepassados. Há até uma
ideia melhor: ressuscitá-los todos. Uma vez que o pedacinho de chão que
descrevo é o paraíso, onde fazer magia e dizer bom dia se converte na mesma
coisa: energia. Cabe a nós não deixar que a transformem em periferia.
Ricardo Alcântara
de Melo
Taubaté, 09 de
junho de 2012
prof ricardo gostei muito do texto parabéns lembra daquele povo da roça neh todos noiz somos caipira grças ao mazarrope do seu
ResponderExcluirex aluno Diego muniz fique com Deus
obrigado pelo comentário Diego!
Excluir