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sábado, 9 de junho de 2012

Saudades do Umbigo
Durante toda minha meninisse, sentia vergonha de ser caipira. Era como eu me via, me considerava menor por morar em um bairro da zona rural de Piranguçu. Maldito complexo de inferioridade, sem raiz, mas que me tornava infeliz.
Quando subia o morro do colégio com meus pais em nossa velha bagageira, era como se eu estivesse nu. Por que? Já que Piranguçu era, como até hoje é, pior que qualquer roça. No entanto, era um bálsamo, passar despercebidamente pela Rua dos Velhacos, cujo nome já infere a necessidade de transitar sem alarde. Meus pais são pessoas honestíssimas, mas notava também nos olhos dele que não sentia nenhuma vontade de assuntar sobre o resto da cidade. Para mamãe isso era indiferente. Crio que se pudesse pousaria direto na igreja, de preferência na palma da Mao de Deus.
Na escola tive a maldita sina, dos seis aos dezessete, me apaixonar sempre pela “estrelinha” da escola, que como já se sabe por força dos seriados, preferia um cara mais velho, de preferência brigão e que já soubesse até fumar. Eu com meus sentimentos puros e ingênuos ficava só babando. Como eu sofria com as decepções amorosas. Sofria calado.
O pior é que achava que as garotas não gostavam de mim devido ao fato de eu morar no bairro dos Melos.  Mais berrante ainda é que, quase como quem vende a alma ao cão, já tive desejo de morar no centro de Piranguçu. Credo em cruz. Nem morto. Aliás, só depois de morto.
Isso se não criarmos um campo santo cá nas terras de baixo, no garboso bairro dos Melos e resgatar os restos mortais dos vitoriosos que se imortalizaram em nós: nossos antepassados. Há até uma ideia melhor: ressuscitá-los todos. Uma vez que o pedacinho de chão que descrevo é o paraíso, onde fazer magia e dizer bom dia se converte na mesma coisa: energia. Cabe a nós não deixar que a transformem em periferia.
Ricardo Alcântara de Melo
Taubaté, 09 de junho de 2012