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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

REMEXENDO MEU PASSADO

COMO É FÁCIL ESCREVER PARA QUEM SE GOSTA. FIZ UMA BUSCA POR MEU NOME NO GOOGLE (COISA DE HOMEM SOZINHO EM CASA) E ACHEI ESSE POEMA , UM DOS QUAIS EU MAIS GOSTEI E MENOS TEMPO GASTEI PRA FAZER. DETALHE: A DESTINATÁRIA NUNCA ME DEIXOU COPIAR. ACHEI ESSE POEMA DO FOTOLOG DA MINHA AMIGA MARIANA, QUE HÁ ANOS NAO VEJO E NEM FALO. ISSO PROVA COMO AS PALAVRAS PERMANECEM NO TEMPO E POSSUEM SIGNIFICADOS E VALORES DIFERENTES ENTRE QUEM AS ENUNCIA E QUEM ABSORVE O ENUNCIADO!! BOM RECUPEREI UM BELO POEMA PARA CASO DE UM LIVRO E LEMBREI-ME DE COMO UMA BELA AMIZADE NASCEU...

Matéria-prima: Mariana

Para o seu aniversário

Mariana, antes que eu te louve
por que diabos não me amas?

Sem respostas exatas
mesmo assim irei louvar
Ao brilho que faz inveja à lua
À grandeza que afoga o mar

Louvo-te porque teu olhar me inflama
porque tens olhar de cigana
E me desarma num simples abrir
dos teus quentes lábios de italiana

Doce Mariana, enquanto te louvo
pergunto por que diabos não me amas?

Mesmo assim continuas a ser louvada
porque te encontrar me deu novo alento
fez-se manhã minha madrugada
brotastes como flor em meu pensamento

Como me fazes florir todo dia
no galanteio de um breve momento
no medo da infeliz despedida
medo de cair em teu esquecimento

Por tudo isso, com isso tudo
ainda insisto em louvar-te!

Louvo-te porque amo-te
porque és amável e também durona
E és minha melhor metalinguagem
Mistura de Julia Roberts com Madona

Amo-te porque és matéria-prima
minha austera e servil poesia
Tu és alcóol e és chama
És minha doce e meiga MARIANA.

Ricardo Alcantara de Melo 31/03/205

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Relendo Vinicius

Para uma menina com uma flor

Porque você é uma menina com uma flor e tem uma voz que não sai, eu lhe prometo amor eterno, salvo se você bater pino, que aliás você não vai nunca porque você acorda tarde, tem um ar recuado e gosta de brigadeiro: quero dizer, o doce feito com leite condensado.
E porque você é uma menina com uma flor e chorou na estação de Roma porque nossas malas seguiram sozinhas para Paris e você ficou morrendo de pena delas partindo assim no meio de todas aquelas malas estrangeiras. E porque você quando sonha que eu estou passando você para trás, transfere sua d.d.c. para o meu cotidiano e implica comigo o dia inteiro como se eu tivesse culpa de você ser assim tão subliminar. E porque quando você começou a gostar de mim procurava saber por todos os modos com que camisa esporte eu ia sair para fazer mimetismo de amor, se vestindo parecido. E porque você tem um rosto que está sempre num nicho, mesmo quando põe o cabelo para cima, como uma santa moderna, e anda lento, a fala em 33 rotações mas sem ficar chata. E porque você é uma menina com uma flor, eu lhe predigo muitos anos de felicidade, pelo menos até eu ficar velho: mas só quando eu der aquela paradinha marota para olhar para trás, aí você pode se mandar, eu compreendo.
E porque você é uma menina com uma flor e tem um andar de pajem medieval; e porque você quando canta nem um mosquito ouve a sua voz, e você desafina lindo e logo conserta, e às vezes acorda no meio da noite e fica cantando feito uma maluca. E porque você tem um ursinho chamado Nounouse e fala mal de mim para ele, e ele escuta mas não concorda porque é muito meu chapa, e quando você se sente perdida e sozinha no mundo você se deita agarrada com ele e chora feito uma boba fazendo um bico deste tamanho. E porque você é uma menina que não pisca nunca e seus olhos foram feitos na primeira noite da Criação, e você é capaz de ficar me olhando horas. E porque você é uma menina que tem medo de ver a Cara- na-Vidraça, e quando eu olho você muito tempo você vai ficando nervosa até eu dizer que estou brincando. E porque você é uma menina com uma flor e cativou meu coração e adora purê de batata, eu lhe peço que me sagre seu Constante e Fiel Cavalheiro.
E sendo você uma menina com uma flor, eu lhe peço também que nunca mais me deixe sozinho, como nesse último mês em Paris; fica tudo uma rua silenciosa e escura que não vai dar em lugar nenhum; os móveis ficam parados me olhando com pena; é um vazio tão grande que as outras mulheres nem ousam me amar porque dariam tudo para ter um poeta penando assim por elas, a mão no queixo, a perna cruzada triste e aquele olhar que não vê. E porque você é a única menina com uma flor que eu conheço, eu escrevi uma canção tão bonita para você, "Minha namorada", a fim de que, quando eu morrer, você se por acaso não morrer também, fique deitadinha abraçada com Nounouse, cantando sem voz aquele pedaço em que eu digo que você tem de ser a estrela derradeira, minha amiga e companheira, no infinito de nós dois.
E já que você é uma menina com uma flor e eu estou vendo você subir agora - tão purinha entre as marias-sem-vergonha - a ladeira que traz ao nosso chalé, aqui nestas montanhas recortadas pela mão presciente de Guignard; e o meu coração, como quando você me disse que me amava, põe-se a bater cada vez mais depressa. E porque eu me levanto para recolher você no meu abraço, e o mato à nossa volta se faz murmuroso e se enche de vaga-lumes enquanto a noite desce com seus segredos, suas mortes, seus espantos - eu sei, ah, eu sei que o meu amor por você é feito de todos os amores que eu já tive, e você é a filha dileta de todas as mulheres que eu amei; e que todas as mulheres que eu amei, como tristes estátuas ao longo da aléia de um jardim noturno, foram passando você de mão em mão, de mão em mão até mim, cuspindo no seu rosto e enfeitando a sua fronte de grinaldas; foram passando você até mim entre cantos, súplicas e vociferações - porque você é linda, porque você é meiga e sobretudo porque você é uma menina com uma flor.